CRIANÇAS BOAZINHAS VÃO PARA O CÉU AS MÁS VÃO À LUTA
“O que ele queria era felicidade, era alegria, era fugir de toda aquela miséria, de toda aquela desgraça que os cercava e os estrangulava. Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas. Mas havia o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas.”
O texto acima nos remete ao livro de Jorge Amado, Capitães da areia, publicado em 1937, ao filme de François Truffat, Os incompreendidos, exibido em 1959, e a realidade vivida e sentida por centenas de crianças de rua, nos dias de hoje. Será que o leitor tem idéia de onde vem esse texto? Quando ele foi escrito? Está certo quem optou por Capitães da areia, apesar de parece surreal que na década de 30, nosso grande escritor, consiga falar uma realidade atual e principalmente universal. Menores abandonados? Moleques? Excluídos? Pivetes? Trombadinhas? Vagabundos? Incompreendidos? Malandros? Ladrões? Perigosos?... Tantos nomes por apenas uma condição social, a de serem abandonadas, rejeitadas, sem escolhas essas crianças vivem em um mundo paralelo a realidade, um submundo, que lhes dá garantia de “vida”, ou melhor, lhes dá garantia de sobrevivência, pois essas crianças não vivem, somente sobrevivem. Roubar, extorquir, enganar, machucar e até mesmo matar são a rotina desses infelizes. Vivem com suas próprias leis, regras, seus próprios desafios, seus próprios medos, aonde a violência, a fome, a discriminação, a promiscuidade, o homossexualismo, a mentira invadem suas infâncias, sem o menor constrangimento, a dignidade lhes é arrancada muito cedo, o medo lhes é parceiro do dia-dia, a revolta uma constante martelada, a luta pela sobrevivência, um risco diário e a ausência de carinho, uma dolorosa verdade. Sem referências essas crianças vivem a margem de uma sociedade que as desprezam. Sem opções, são tratados como ladrões e acabam se tornando até mesmo assassinos. Porém em todos, sem exceção, existe a angústia da ausência de um lar, de ter alguém que dê colo, um carinho, um beijo se quer. Em Capitães da areia, que de tão atual, chega a ser assustador, vemos a luta pela sobrevivência de um grupo de crianças baianas, liderados por Pedro Bala nas ruas desde os cinco anos, cuja agilidade sugerida pelo apelido, merece especial atenção, vemos Volta Seca, um menor mulato sertanejo, que viera da caatinga, tinha ódio das autoridades e sonhava se tornar cangaceiro tinha como ídolo, Lampião, o que não difere dos atuais “Voltas Secas” que tem ódio das autoridades, sonham se tornar traficantes e tem como ídolos, Marcola, Fernandinho Beira Mar, as histórias se repetem. A figura feminina mais expressiva do livro, é Dora que acaba sendo o único referencial feminino, tornando-se assim mãe para uns, irmã para outros e mulher, para Pedro Bala. François Truffat, diretor de Os incompreendidos, respondeu em uma entrevista o sentimento real não só do personagem, Antoine, mas o sentimento em que viviam as crianças de Jorge Amado e o sentimento em que vivem as crianças de rua atualmente. “– Fico muito surpreso quando me dizem que se trata da solidão de uma criança. É exatamente isso o que eu queria.” (Eduardo Veras, Agência RBS) No filme, vemos Antoine, um menino de 14 anos que apesar de ter família não se sente querido, amado ou recebe qualquer carinho, ao contrário, mãe, padastro, professor, o tratam com desprezo, chamando-o sempre de mentiroso fazendo assim com que ele encontre nas ruas um refúgio. O tempo passa, mas a condição continua a mesma. Sabemos que essa é exatamente a condição de muitas crianças de rua. Podemos perceber com isso que em qualquer época, em qualquer lugar, sem amor, sem fraternidade, sem carinho não se constrói cidadãos, são construídos... menores abandonados? Moleques? Excluídos? Pivetes? Trombadinhas? Vagabundos? Incompreendidos? Malandros? Ladrões? Perigosos?
Magnifico...
ResponderExcluirEsse livro é muito bom, pois quando começamos a ler não queremos mais parar. Jorge Amado foi maravilhoso, ao retratar o outro lado da moeda. Tendo em vista que, "Os capitães de areia" são conhecidos como Malandros, Ladrões, Perigosos,entre ostras coisas muito mais abomináveis.Se esquecem que são apenas crinças e como qualquer outro ser humano tem sonhos, desejos e ángustias. Muito interessante mostrar as aventuras vividas por eles, mostrando também que apesar dos pesares, cada um escolheu seu caminho.
Amei o texto, Angela!!!
ResponderExcluirbeijão!